quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A PAIXÃO É VERMELHA


O Vila morreu! Viva o Vila!

Tânia Fonseca socióloga

A cor é vermelha, como as nuances da paixão. Sentimento esse que todos sabem é sempre avassalador e avesso ao bom senso e a lógica. A torcida do Vila Nova Futebol Clube tinge-se de vermelho, embriaga-se de uma idolatria contagiante e exasperante. Uma alegria que incomoda. Afinal, alegria por quê? Do que se orgulham os vilanovenses? Que torcida é essa que lota os estádios, que grita um amor eterno! Que sofre derrotas medíocres e anseia por vitórias improváveis, mas sempre possíveis, sempre à espera do primeiro, segundo e outros inúmeros gols! A torcida do Vila incomoda. Incomoda, porque ressurge após cada derrota. Porque não se acomoda ao exercício passivo da paixão. Exercício esse amplamente usado por seus adversários (em destaque os mochés) que usam dos bares, da internet, do conforto da sala e do aconchego do sofá pra torcerem e incentivarem seus times. A torcida colorada não; embrulhada em uma paixão descabida, ela pega o último ônibus, ela usa os últimos reais pra colocar um “cadinho de gasosa” pra ver o Tigrão. Ela vai de carona, ela vai a pé, literalmente, “taí” o Leandro e a Iracy, ambos do Bairro Vila Nova, que não me deixam mentir. Mas eles vão! No último jogo que fui, 30 mil colorados se aglomeraram no Serra Dourada pra verem uma partida medíocre com resultados insignificantes, isso pra não dizer lamentáveis. Muitos chamam a esse amor desbragado de fidelidade. Ouvi, não sei onde, nem sei de quem, que a torcida do Vila é fiel. E pior, uma fiel infiel. Discordo; a torcida vilanovense não é fiel, nem infiel, ela é apaixonada! E paixão não se explica; ela é ou não é. Nascido no coração de um bairro genuinamente operário, a famosa Vila Nova. Idealizado pelo pe. José Balestiere e fundado em 1943, pelo coronel Francisco Ferraz com a benção de Gercina Borges, esposa de Ludovico Teixeira. O time do Vila Nova surge ungido por uma tríade inusitada, formada pela fé católica, na sua mais pura manifestação: esporte, congraçamento e entretenimento para o povo, em especial ao trabalhador. Pela determinação militarista de um coronel e a afetividade desmedida de uma mulher conhecida como “mãe dos pobres”. Eis então, que surge o Vila Nova Futebol Clube! Fé, bravura e paixão. Não tenho muitos dados sobre a trajetória do clube colorado. Vim de um “long, long time” distante de Goiânia. As notícias de vitórias, derrotas e confrontos me eram passadas pelos familiares e amigos, de forma atropelada e passional, como são sempre as versões apaixonadas.  E durante minhas andanças, os vilanovenses surgiam em todas as paragens. O último, eu conheci em Saint George, Guiana Francesa. O nome dele, Kleber, a camisa vermelha nº 9, segundo ele oficial. Estou em Goiânia há dois anos, fui em quase todos os jogos do Vila em 2008, acompanhando meus filhotes. Não entendo de futebol, não sou fanática, sequer compreendo todas as regras. Mas me encanta a lealdade colorada. Sentimento muito além da fidelidade. Encanta-me a torcida, cujo amor não se sacia. Uma alegria que contorna a mediocridade da diretoria, presidência e jogadores incompetentes atuais. Há muito, a torcida colorada clama por um time que a mereça. Assim como o povo bíblico escolhido vagou por 40 anos pelo deserto almejando alcançar a terra prometida, a nação colorada com seu amor desmesurado e uma dedicação exaltada, se encontra perdida, andando em espirais negativos e infindáveis. Será o fim? Domingo (8) pode ter sido a gota d’água em um mar de decepções e incompetências. Parte do Serra entristeceu, faltou o derrame espetacular da cor vermelha! Foram muitos os ausentes. Como numa premonição do lamentável e vergonhoso placar, o bandeirão se rompeu, rasgou fragorosamente de forma simbólica: a torcida colorada estava ferida de morte! Silenciaram os risos, os brados e o hino. Aos poucos ia diminuindo o vermelho na arquibancada. A nação da vila famosa estava em pedaços! Bandeiras foram dobradas. Os radinhos desligados. Não houve animosidade apesar do frenesi justificável do adversário. Só silêncio... reinou o silêncio! As grandes derrotas só requerem o silêncio! Pra mim, o futebol ficou infinitamente mais triste. Sou naturalmente anarquista e apaixonada. Em um mundo onde tudo é triste e cinza, o vermelho é imprescindível. Não ouso fazer previsões. Ai de quem quiser prever a paixão. Vou aguardar em silêncio. Há muito que eu aprendi que “tudo passa...”.

Mas a cor é vermelha como a paixão...! Vermelho, vermelhusco, vermelhaço, vermelhante, vermelhão! 

 

 

4 comentários:

Nara disse...

Belo texto, pena que a cor do Vila seja laranja agora, né...

Ou seja,nem a cor do Vila é mais a mesma.

Eu concordo que a torcida colorada seja apaixonada. É uma grande torcida e contrasta flagrantemente com o atual time.

Que reviva o Vila Nova,afinal, futebol e circo são salutares à vida do homem moderno, ou não (à Caetano)..rs

Santiago M@rcelo disse...

Concordo tb que a torcida do timeco do Vyla seja apaixonada... mas felizmente pára por aí...

rs

William Machado disse...

Como dizem...a orcida não merece o time que tem...

claudio disse...

SOMOS APAIXONADOS, AMAMOS SEM QUERER NADA EM TROCA, NUNCA IRAO VER A GENTE QUEIMAR NOSSAS CAMISAS DO TIME QUE AMAMOS... SO VILA NOVA DE CORAÇAO!