O HOMEM DO MEU TEMPO
O homem do meu tempo é meio homem mesmo.
Já aprendeu que ser macho é coisa à antiga,
Viu as benesses de compartilhar a caçada diária
Trocou a fogueira noturna pela tv
E já pouco se lembra do “perpetuar da espécie”.
O homem do meu tempo é guerreiro caduco.
Procura, às pressas, o e-mail, o paletó, a marreta, a maleta, a chave do carro.
E corre... dobra esquinas, telefona, paga conta, suporta a chefe-gostosa-e-chata.
Mas não se lembra de tocar a esposa, de chorar de rir com os filhos
ou de cumprimentar os amigos com um bom dia incendiário de alegria.
O homem do meu tempo é interplanetário.
Seus olhos correm o mundo numa fração de segundos.
Mas os olhos que desvendam peculiaridades de terras longínquas,
Já não ficam marejados com o sofrimento dos povos,
Não brilham ao contemplar o arco íris logo após um maremoto.
Não brilham... O homem do meu tempo não tem olhos que brilham.
O homem do meu tempo explica, se explica e confunde.
Não sabe o seu papel ou sua sina.
O homem do meu tempo não viu que nós, mulheres, viemos em paz.
Se tumultuamos é para que nos percebam ao menos nos intervalos do Jornal Nacional.
O homem do meu tempo não viu que os papéis podem ter sofrido inversão,
mas os sentimentos não.
Goiânia, 2.005
Por Nara Ribeiro
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