segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O HOMEM DO MEU TEMPO


O HOMEM DO MEU TEMPO

 

 

 

O homem do meu tempo é meio homem mesmo.

Já aprendeu que ser macho é coisa à antiga,

Viu as benesses de compartilhar a caçada diária

Trocou a fogueira noturna pela tv

E já pouco se lembra do “perpetuar da espécie”.

 

O homem do meu tempo é guerreiro caduco.

Procura, às pressas, o e-mail, o paletó, a marreta, a maleta, a chave do carro.

E corre... dobra esquinas, telefona, paga conta, suporta a chefe-gostosa-e-chata.

Mas não se lembra de tocar a esposa, de chorar de rir com os filhos

ou de cumprimentar os amigos com um bom dia incendiário de alegria.

 

O homem do meu tempo é interplanetário.

Seus olhos correm o mundo numa fração de segundos.

Mas os olhos que desvendam peculiaridades de terras longínquas,

Já não ficam marejados com o sofrimento dos povos,

Não brilham ao contemplar o arco íris logo após um maremoto.

Não brilham... O homem do meu tempo não tem olhos que brilham.

 

 

O homem do meu tempo explica, se explica e confunde.

Não sabe o seu papel ou sua sina.

O homem do meu tempo não viu  que nós, mulheres, viemos em paz.

Se tumultuamos é para que nos percebam ao menos nos intervalos do Jornal Nacional.

 

O homem do meu tempo não viu que os papéis podem ter sofrido inversão,

 mas os sentimentos não.

 

Goiânia, 2.005

Por Nara Ribeiro

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