O DESTINO NA PALMA DA MÃO

Um bom almoço à pobre cigana

by Nara Rubia

 

 

 O destino, afirmava a cigana obesa e indolente, está devidamente escrito nas linhas da palma da nossa mão: “- Dá um trocado pra vó e dexa a vó lê a sua mão, minina bunita, qui a vó conta o qui si assucederá cum seu distino, casamento, sorte...” Pobre cigana! Nos tempos modernos, o destino pouco se mostra na palma da mão. O destino, hoje, é um desenho virtual surrealista feito no emaranhado das conexões que nos integram à grande rede.

De fato a sorte delineada nas esferas cibernéticas é um desenho ilimitado no espaço. Não há distância que seja empecilho a que nossas vidas “esbarrem” umas nas outras.

 

Parece algo mágico, a um só tempo almas gêmeas se encontram e forças antagônicas se repelem e/ou se atraem mutuamente. Sentimentos surgem de um teclar furtivo. Relacionamentos se consolidam por um teclar constante. Laços são feitos, refeitos ou rarefeitos, até... Nossas vidas são impregnadas de outras vidas e o destino desenhado pela grande rede é bem mais amplo que aquele “observado” na palma da nossa mão.

 

O mundo virtual é fascinante, mas não devemos descuidar de nossas mãos: do concreto, do palpável. Não podemos nos ater uma “vida virtual” e nos descuidarmos do amigo do apartamento ao lado, da amiga de infância que há muito não vemos e que nem entra no msn... do rapaz da esquina, da moça que você encontrou na padaria... grandes amores ainda acontecem (acreditem!) em filas de banco, no caixa do supermercado ou no cruzamento da Goiás com a Anhanguera.

 

E bem assim eu festejo a modernidade e agradeço as asas dadas pela internet às linhas do meu destino, mas não me furto a garantir o sagrado almoço da pobre cigana: - “Vó, o que a senhora vê na palma da minha mão, diz aí... vida longa, solidão, casamento, sorte?!!! Da morte, vó, nem conta, não quero saber!”