Ufanista, eu?
Mulheres e sua eterna mania de fazerem mil coisas a um só tempo! Revia alguns de meus antigos escritos, enquanto acompanhava com relativo interesse o noticiário televisivo. Em mãos, um texto datado de 94; na tv, o presidente Lula falando seus recorrentes impropérios.
O poema falava de meu “projeto juvenil para o Brasil” e refletia uma jovem indignada com a injustiça, com a poluição das consciências, com a decadência do senso crítico na espécie humana. Sonhava um Brasil que dignificasse o seu povo.
Senti uma pincelada de nostalgia dar um tom acinzentado à minha alma. Minha calma se acumulou da lembrança sombria e fria de uma esperança que coloriu minhas primeiras décadas de vida.
Recordei a campanha pelas “Diretas”, quando, ainda criança, questionei ao meu pai, emocionada, se uma mulher poderia chegar à Presidência da República. Rememorei a promulgação da nova Constituição, as campanhas eleitorais inebriantes que a sucederam, mas também me lembrei das decepções diversas: corrupção, impeachment, escândalos, denúncias, as bases democráticas estremecidas pela ignorância das massas, pela desonestidade das elites, pela perspicácia na apropriação indevida daquilo que é público.. A podridão no exercício da representação do povo é o espantalho da esperança de justiça social.
Respirei fundo. Olhei firmemente o presidente Lula. Não consegui atentar ao que ele dizia.
Vi um menino mais que humilde, de vida simples, sem berço e sem posses a desprezar o futuro que a pobreza lhe traçara. Vi um jovem sem instrução, de modos rudes, almejando reescrever nossa história. Olhei seus olhos flamejantes: persistência. Não deve ter sido simples enfrentar preconceitos tamanhos, arrazoados contrários, sucessivas derrotas, contumazes críticas.
Olhei o sorriso de Lula. Ao observar aquele sorriso de sonhador visionário e de apaixonado professor da genuína fé brasileira, não resisti. Esbocei um debochado sorriso e me rendi: Está certo, Luis Inácio! eu também ainda posso sonhar o Brasil!!!
2 comentários:
Que me perdoem os companheiros de colorida plumagem tucana. Foi um mero devaneio... Já voltei ao normal.
a esperança nao pode morrer, nunca. Mesmo que a realidade nos diga o contrario !!!!
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